Foto: Reprodução

Por que Zelensky propõe negociação de paz com a Rússia em Jerusalém  

26.03.22 18:28

O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky (foto), sugeriu em meados de março que as negociações de paz para acabar com a guerra iniciada pela Rússia deveriam ocorrer em Jerusalém. Na quinta-feira, 24, seu chefe de gabinete, Andriy Yermak, disse que a cidade é “um dos lugares prioritários” para um possível encontro entre Zelensky e o presidente da Rússia, Vladimir Putin.

A importância que os ucranianos têm dado a Jerusalém tem a ver com a contribuição que Israel poderá dar para um cessar-fogo. “É Israel que provavelmente poderá ter um papel-chave nas negociações e na suspensão das hostilidades e retirada do Exército russo de nosso território“, disse Yermak.

Desde o início do conflito, o primeiro-ministro de Israel, Naftali Bennett, tem se encontrado com Putin e com Zelensky na busca por um entendimento.

Há várias outras razões para explicar o possível protagonismo israelense. A primeira é que, com o fim da União Soviética, em 1991, Israel recebeu mais de 1 milhão de russos e habitantes de ex-Repúblicas soviéticas, como os ucranianos. Hoje, esses grupos, bem como seus descendentes, representam 15% da população do país. “Esses israelenses têm muitos parentes e amigos tanto na Rússia como na Ucrânia, o que ajuda Israel a falar com os dois lados“, diz o cônsul de Israel em São Paulo, Rafael Erdreich.

Um dos israelenses que estão contribuindo para o diálogo é o oligarca russo Roman Abramovich, até recentemente proprietário do time inglês de futebol Chelsea. Por ser judeu, Abramovich obteve cidadania israelense em 2018. Ele tem casa em Israel e financia vários projetos, como o Museu do Holocausto.

Na quarta, 23, Zelensky pediu para que o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, não aplicasse sanções contra Abramovich, para que o oligarca pudesse atuar como mediador. Na sexta, 25, assessores do Kremlin confirmaram que Abramovich está “pesadamente envolvido” nas conversas de paz.

O governo de Israel também tem evitado tomar partido na guerra. Nesta semana, veio a público a informação de que o país, para não incomodar a Rússia, teria bloqueado a venda do software Pegasus, que permite vasculhar tudo o que uma pessoa guarda e transmite em seu celular, para a Ucrânia.  Zelensky havia pedido ainda baterias antiaéreas Iron Dome, as mesmas que protegem as cidades israelenses de foguetes enviados da Faixa de Gaza, mas  também não foi atendido.

Ao contrário dos países da Organização do Tratado do Atlântico Norte, a Otan, que têm enviado armas de defesa, a ajuda israelense para a Ucrânia se restringe a medidas de caráter humanitário.

Na terça-feira, 22, foi inaugurado um hospital de campanha perto da fronteira polonesa, na cidade de Lviv. Divididos em dez tendas, os 80 médicos e enfermeiras israelenses tratam principalmente de crianças, pessoas com doenças crônicas e feridos. Para recebê-los, salas de aula de uma escola foram transformados em quartos (abaixo).

ReproduçãoReproduçãoHospital de campanha israelense em Lviv, na Ucrânia
Israel também pode ganhar destaque nas negociações de paz porque outros países que tradicionalmente ocupam o lugar de mediador não podem fazê-lo neste momento.

Os europeus são vistos com desconfiança por Vladimir Putin por integrarem a Otan, que é considerada uma ameaça pela Rússia. A Noruega, talvez o país que mais acumulou experiência em negociações de paz, faz parte da aliança — o secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, é um ex-primeiro-ministro norueguês. O Catar, que desempenhou o papel de negociador em vários conflitos pelo mundo, é outro país que também poderia se apresentar para a missão, mas os israelenses parecem estar um passo à frente.

Os comentários não representam a opinião do site. A responsabilidade é do autor da mensagem. Em respeito a todos os leitores, não são publicados comentários que contenham palavras ou conteúdos ofensivos.

500
  1. O Carniceiro do Kremlin precisa ser detido urgentemente! Esse irresponsável já foi longe demais. Milhões de pessoas estão perdendo suas vidas, bens, famílias, etc, porque um idiota resolver roubar as terras do país vizinho. Criminoso de guerra, açougueiro, imundo! Volte para o inferno, aberração!

  2. Em um mundo civilizado, a diplomacia pacificadora e multilateral é o caminho para a paz e o desenvolvimento econômico e social dos povos.

  3. Boa ideia. Israel pode ajudar. Tem a confiança das partes. Tem que ter o cuidado de não pender para os genocidas americanos. Nasceram no século 17, uma criança perante nações muitas nações do mundo, e já cometeram inúmeros crimes contra a humanidade. Vietna, Iraque, . Tem territórios, tomados, em todos os continentes. Já contribuíram muito com a ciência, mas seus crimes não apagam essas bondades.

  4. Excelente texto considerando o que temos visto até o momento nesta agressão russa à Ucrânia. A grande questão é: até que ponto o criminoso Putin está interessado em fazer acordo de paz que respeite as aspirações dos ucranianos?

Mais notícias
Assine agora
TOPO