Reprodução/JusTocantinsMaria do Carmo, ou Carminha: sonho distante, mas

Próxima de Flávio, desembargadora que anulou relatório sobre Wassef já pediu emprego para parente na JBS

31.01.21 16:04

A Terceira Turma do Tribunal Regional Federal da 1ª Região decidiu anular o relatório do Coaf que apontou transações financeiras suspeitas atribuídas ao advogado Frederick Wassef, defensor da família Bolsonaro. Um dos três votos pela anulação da validade jurídica do documento foi proferido pela desembargadora Maria do Carmo Cardoso (foto), próxima do senador Flávio Bolsonaro, filho 01 do presidente, que era defendido até recentemente por Wassef.

A informação sobre a decisão foi revelada neste domingo pelo jornal Folha de S.Paulo. Carminha, como é conhecida a desembargadora, também cultiva antigos e estreitos laços com a JBS, mencionada no documento como pagadora de milhões de reais a Wassef. Em sua edição de número 137, Crusoé revelou que a magistrada usou a estrutura de seu gabinete para pedir emprego para uma pessoa de sua família ao chefe do setor jurídico do grupo, Francisco de Assis e Silva, amigo pessoal e cliente de Wassef.

O relatório do Coaf, também revelado por Crusoé, mostrava que entre os anos de 2015 e 2020, Frederick Wassef recebeu 9,8 milhões de reais da JBS. Imediatamente, a força-tarefa da Operação Greenfield pediu explicações ao grupo a respeito dos pagamentos, para entender se houve alguma omissão em seu acordo de leniência.

O julgamento do TRF-1 que anulou o relatório teve como relator Ney Bello, que votou para enterrar o documento, e foi acompanhado por José Alexandre Franco e Maria do Carmo Cardoso. A corte ainda determinou o trancamento de um inquérito sobre Wassef em curso na PF que tem por base o relatório do Coaf.

A desembargadora e sua família têm um longo e controverso histórico de relações com a JBS. Uma das filhas dela, Renata Gerusa, chegou a ser alvo de uma apuração por suposta compra de decisões de ministros do Superior Tribunal de Justiça. O inquérito nasceu a partir de declarações do ex-marido dela à Procuradoria-Geral da República. Ele entregou diversas mensagens nas quais Renata e o chefe jurídico da J&F discutem meios de obter decisões na corte. A investigação foi arquivada no STF.

A relação entre a filha da advogada com a JBS foi objeto de questionamentos no curso de uma auditoria interna do grupo. Em um levantamento sobre possíveis e-mails que citavam o caso, auditores encontraram uma polêmica mensagem direta de Maria do Carmo Cardoso, enviada a partir de seu e-mail oficial do TRF-1, para Francisco de Assis. Na mensagem, de junho de 2016, ela dizia:
“Caro Dr. Francisco (…) Creio que Renata (Gerusa Prado de Araújo, filha da magistrada) já tenha lhe falado sobre Nayara, irmã de Najla, mãe da minha netinha. A jovem recém-formada em veterinária que está se candidatando a uma vaga no complexo industrial da JBS. Conto mais uma vez com seu apoio”, pediu a magistrada. O relatório registra que Renata Gerusa chegou a receber 3,8 milhões da JBS entre 2014 e 2017.

Maria do Carmo Cardoso é casada com Amauri Cezar Piccolo, homem de confiança do ex-presidente José Sarney, que mantém influência nos círculos políticos de Brasília. Por meio dele, a desembargadora se aproximou de Flávio Bolsonaro. Uma outra filha da desembargadora, Lenisa Prado, foi nomeada por Jair Bolsonaro para uma das disputadas cadeiras no Conselho Administrativo de Defesa Econômica, o Cade. A nomeação contou com a intermediação de Flávio Bolsonaro.

Crusoé indagou Maria do Carmo se, diante de suas relações com os Bolsonaro, com a JBS e, por tabela, com o próprio Wassef, ela não se sentiu impedida de participar do julgamento sobre o relatório do Coaf. Até o momento, a desembargadora não se manifestou.

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